Capítulo 1

A vida apresenta uma visão interessante do mundo.
O homem sempre vive buscando a satisfação e o prazer.
Comigo não é diferente.

O amor fraterno e a paixão são duas coisas difíceis de serem sentidas, na vida somos presenteados com isso poucas vezes, assim aconteceu.
Conheci o menino em um domingo ensolarado.
Minha amante conversava com ele há tempos e, no início, o foco era prazer e satisfação sexual. Eles mantinham intimidades enquanto ela não estava cuidando dos afazeres em minha casa, durante um período em que eu havia desistido do nosso romance. Depois, a coisa havia evoluído para uma grande amizade. Mais ou menos quando retomamos nossa relação e ela aceitou que eu nunca poderia largar de minha mulher.
A amizade entre eles se tornou forte assim que a tensão sexual diminuiu, o menino arrumou uma namorada e eles se encontravam eventualmente pela cidade. Neste período, minha esposa havia viajado para a Itália com meus filhos para ir ao enterro de uma tia avó e rever parentes distantes. Era só eu e Dorinha vivendo os nossos melhores dias.

Nestes dias eu conheci vários amigos dela, então, neste domingo, marcamos para encontrar mais um.

Eu forço situações onde demonstro ciúmes, é um fingimento necessário.
Em várias situações, enquanto ela me contava que havia encontrado ele na rua, eu acabava demonstrando descontentamento pra deixar-la feliz, simulando o ciúme com relação ao relacionamento dela com este rapaz, mas na verdade nunca senti ciúmes. Confio muito nela pra sentir estas coisas sem sentido.

Nos encontramos em um banco, no horário marcado. Eu não estava presente quando o rapaz chegou, tinha ido cumprimentar um conhecido que mateava com a família.
Não sei explicar diretamente o que aconteceu quando vi ele pela primeira vez, primeiro me senti acuado, não por ele, mas por me achar incrívelmente obsoleto. Ele tem 7 anos a menos e uma jovialidade inacreditável.
A primeira coisa que me chamou a atenção foi o timbre de voz, absolutamente masculino, com aquele rouco no fundo, típico de pessoas que cresceram a beira mar.
Nos primeiros minutos de conversa, o gelo foi quebrado pelos papos e risadas divertidas de Dorinha, que por conhecer o rapaz fazia piadas de assuntos em comum.
Eu fiquei meio por fora, acompanhando o desenrolar do papo, tentando absorver aquela intimidade que os dois haviam desenvolvido durante o tempo.
Começaram a passar muitos conhecidos, resolvemos trocar de local e fomos para uma área mais íntima. Neste momento comecei a sentir o nervosismo…

Não sei como explicar, um tremor no corpo, um frio “quente”. Uma necessidade desconhecida e sem motivos. Primeiro pensei que fosse porque eu havia comido pouco, mas depois parei de me enganar e passei a perceber de onde vinha a sensação.

O assunto desenrolou para a percepcão de vida, morte, religião e passado de cada um.
O meu nervosismo foi notado pelos dois, dei desculpas infelizes. Não conseguia olhar pra ele, não conseguia tocar na Dorinha. Meu coração “pulava” dentro do peito e eu comecei a suar frio.
Conversamos até o entardecer naquela praça. O assunto fluiu de uma maneira tranquila, como se nos conhecessemos há anos.
Ele, mesmo com pouca idade, tem uma cabeça incrível, um ótimo contador de histórias, um ícone na família e na vida, mas com diversas preocupações,
sentimentos conflitantes e uma necessidade de transparecer tranquilidade e força.

Os sentimentos dele afloram através das histórias que ele conta,
o olho brilha, mas ele avalia a nossa forma de pensar de maneira mecânica.
Será muito difícil entender a mente dele, mas é um ótimo desafio.

Começa a anoitecer e Dorinha convida ele para jantar conosco. No caminho continuamos conversando sobre diversas coisas.
Em casa, aquela tensão volta e eu não sei o que fazer com isso… Fico sentado distante deles tentando me acalmar, me retiro para tomar um banho e tentar compreender o que aquilo está me dizendo.
Eu noto o olho dele observando nossas reações, meu corpo, o corpo dela. A palavra dele gera em mim uma sensação de eletricidade. O tesão é iminente mas contido.
Ao mesmo tempo em que as sensações físicas surgem, também inicia uma forte cumplicidade e amor fraterno. Não sei como isso pode ser possível, é como sentir tesão pelo teu irmão, incompreensível, intenso e proibído.
O jantar foi tranquilo, abri um garrafão de vinho da vinícula de minha esposa, bebemos, nos divertimos. No final da noite levamos ele até um pedaço do caminho e voltamos conversando animadamente.
Dorinha está feliz por ter me apresentado um grande amigo. Eu, ainda estou assustado pelas emoções que senti. Não faço a mínima idéia do que ocorreu e porque ele fez eu sentir isso. Estou feliz com ela, sempre achei achei que nunca mais iria sentir atração por outro homem depois de ter a Dorinha.

Ao voltar pra casa, o suspiro é inevitável.

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