Introdução
Estas lembranças foram extraídas dos diários de um grande amigo meu… É um texto privado, e só tive acesso a este material pela minha amizade com o autor e pelo fato dele estar próximo do fim da vida. A história dele me comoveu de tal forma que eu pedi para reescreve-la e contar de alguma forma os fatos que ele viveu.
Conheci o “Roberto” na internet… Ele mora em Canoas e na semana que vem completa 66 anos.
Ele me chamou em um site de relacionamentos e começamos a bater papo… Obvio que com esta idade eu nunca me interessaria em ter algo com ele, mas as palavras dele me cativaram de tal forma, tanto que permiti a amizade.
Este contato já dura uns 8 meses e neste período tivemos muitas conversas sobre muitas coisas.
Em um desses papos ele me falou deste grande amor que teve, e de como nunca mais teve contato com ele. Eu comparei com um momento da minha vida e me interessei pelo que ele havia passado.
Com o passar do tempo, nossa amizade foi crescendo, um dia fui na casa dele para conversar e ele me mostrou os preciosos diários.
Ele é extremamente organizado e mantém estes escritos guardados a sete chaves. Nem a esposa dele, que faleceu o ano passado, soube da existência deste material.
O caderno mais antigo inicia em 29 de Janeiro de 1961, quando ele passou por uma situação terrível.
Ele tinha 18 anos e havia se interessado por um colega, a intenção era tanta que ele se declarou para o rapaz. No outro dia ele foi apanhado no caminho. Foi amordaçado, surrado e estuprado por 3 amigos de trabalho. Pessoas com as quais ele convivia e confiava.
Neste dia, ele, com vergonha, medo e autopiedade. Sem ter pra quem contar, começou a escrever.
Acabei convencendo ele a ler os textos mais recentes pra mim. Ele, orgulhoso das suas histórias, me contava com entusiasmo das suas puladas de cerca. Nossa amizade e intimidade cresceu, ele pediu pra mim trascrever suas histórias. Foi assim que obtive estes diários.
Os primeiros volumes falam sobre a dor de ser homem, gostar de homens e não poder viver assim. Da vergonha do acontecido, do medo e de aceitar ser obrigado a casar-se com uma mulher pra contentar os seus pais.
Ele sempre diz, irônico e engraçado, que naquela época, ele, com 18 anos, não tinha a menor noção de como o sexo era… Não tinha medo porque não entendia, ouvia as pessoas falando do “barranqueador” que comia até homem e as histórias de farra dos amigos com as putas, entendia nas entrelinhas que homens tinham tesão por outros homens, mas não aceitava porque estes homens casavam com mulheres e tinham filhos.
De qualquer forma, esta parte dos seus diários não me interessaram muito, embora seja o relato de um tempo difícil, não eh sobre isso que eu gostaria de escrever.
Em resumo, ele teve uma vida dupla por muito tempo, namorava meninas mas mantinha relações com outros homens, registrava estas histórias para se masturbar, lembrar e conviver com suas escolhas. Com 20 anos ele encontrou sua esposa. Ele chamava ela de Itália na intimidade, uma morena linda de Garibaldi, nascida em família italiana, com forte sotaque e bons princípios como seu pai falava. Casou-se, teve um par de filhos.
Neste ponto seus diários viram uma choradeira sem sentido, ele fala de amar os filhos e a esposa mas fala que tudo poderia ser diferente. Trabalha incessantemente pra manter as coisas no lugar, reclama do governo, dos militares.
Aos 26 anos ele tem umas férias da esposa e passa a ter mais liberdade com sua amante, a empregada da casa. É a partir deste ponto que a história inicia.