Tempos Vividos, Vívidos e, talvez, Desperdiçados
Há tempos não sabia quem eu era… Ou o que era.
O tempo moldou minha personalidade a ferro e fogo, forçando e forjando minha personalidade imutável em blocos teoricamente perenes e certos.
Tinha a certeza de ter todos os elementos, e de que estes pedaços eram trechos de uma vida normal e cotidiana. Me percebia sincero, sensível, inteligente e conhecedor. Também me achava bruto, correto e imutável. Nos momentos de tristeza, eu era incapaz, insuficiente… Ímpetos de consumir todo o mundo em uma tarde, noite, ou dias eram frequentes.. Mas isso e estes eram eu… EU… E eu era único e especial.
Algumas vezes, várias vezes, tão incontáveis quanto o turbilhão de emoções que permeavam meu consciente e inconsciente, eu agi baseado nas reações certeiras da minha personalidade mutante e feri todas as individualidades e existências próximas… Amigos, parentes, desconhecidos e minhas próprias verdades.
Não foram raras as situações onde eu assustei, magoei e refleti esta inconstância… Perdi amigos, clientes, amores e tempo… Perdi a sobriedade, o pudor, ousei e vivi… Hoje percebo que de maneira superficial, ou seja, supostamente passei por incontáveis histórias… Fruto da minha certeza nos momentos de mania obsessiva.
Depois destes momentos, vinha a solidão e depressão absoluta… Eu, um elemento único e sozinho no imenso universo. Ninguém era capaz de suprir esta necessidade de companhia. Eu não me sustentava dentro de minhas próprias barreiras e certezas… Os escudos implodíam e esmigalhavam todas elas. Destruíam também as lembranças e o limite do certo e errado.
A solução era continuar buscando e perseguindo o éter necessário para preencher o vazio… Esta busca depressiva pela verdade e completude eventualmente levava a momentos de sobriedade e novamente à sensação de unidade perfeita…
O ciclo, cada um e todos… Todas as voltas, percepções, ira, amor, sexo descontrolado, experiências com meu corpo e com minha conta bancária. Com a paciência dos indivíduos próximos…
Mas, depois de tudo isso, e com medo, raiva e pudor surge uma ideia… Uma constante…
Enfim fui convencido… talvez estejam certos… Minha personalidade relutou por meses antes de aceitar a cruel verdade.
Eles, os analistas do meu cérebro e das minhas ações / reações nunca saberão o que é ser eu… Também nunca conviveram comigo nem conseguem entender a amplitude das minhas experiências… Mas, talvez estejam certos.
Nunca havia acreditado nisso… Mas, as peças se encaixam. Talvez estes comprimidos de duas cores possam me manter organizado. Impedir meu cérebro de girar incontroladamente… Impedir as ações erradas e reduzir por consequência as dores das perdas.
Mas é assustador saber que toda a construção da minha personalidade possui elementos instáveis… A terra e rochas abaixo dela fazem parte de uma fissura na crosta social e os terremotos são frequentes. As bases são frágeis e o cimento dos blocos são gelatinosos e escorregadios… Eu não sabia que meu prédio e unidade poderiam assumir tantas formas.
Assustador também é perceber todas estas coisas e não conseguir fazer nada pelo passado.
Remorso? Não, esta palavra não existe atualmente no meu vocabulário… Só existe o futuro de uma luta constante em absorver e viver a quantidade imensa de segundos que me restam.
Que eu esteja dando passos certos e que este período não me sirva como uma lição amarga no futuro.