Armadilhas de Pescador
Acho que consegui…
Consegui arrancar ele de dentro de mim.
Eu precisava visualizar, precisava entender, precisava…
Sei que busquei me machucar, mas a resposta veio de maneira tão simples. Totalmente ao acaso.
Pedi para meus protetores me passarem as informações que eu precisava para atingir este objetivo.
Obrigado novamente.
Eu precisava de algum elemento para me sentir melhor. Ridículo isso, eu sei, mas tenho a necessidade de não me sentir inferiorizado. Percebo que no meio de tantas qualidades acabo tendo uma índole melhor, por pior que fosse meu passado eu não cheguei a tal ponto.
Eu nunca faria tal coisa. Mesmo quando tive perfis explícitos, eles duraram pouco tempo. Nunca usei as táticas de “Pescar durante a madrugada”, ou seja, deixar meu perfil aberto logado para que as pessoas fossem atraídas por um mero objeto sexual. É como deixar uma rede armada para incautos. Gostaria de ter visto tal coisa na quarta ou quinta-feira da semana passada. Seria um triunfo muito maior, realmente mais dolorido e infinitamente mais claro. Cansei de dizer que atraímos o que somos. Ver o outro me trouxe uma visão ampliada das tuas últimas ações. O fato de manter contato com mais pessoas quando estava “tentando” voltar comigo, o fato de usar o conhecimento de outro para que fosse escrito um dos projetos mais importantes da tua vida até hoje. Atraímos o que somos e realmente é o que tu teve.
Agora sinto, estou melhor, sinto um tamanho nojo, uma tamanha decepção que torna impossível que qualquer coisa volte a acontecer entre nós.
Simples e claro como a água que eu estou bebendo agora.
Meu estômago revira, sinto o gosto da comida que comi na minha garganta, misturado com o ácido do estômago. Só a água acalma esta sensação de nojo que sinto.
As pessoas se envolvem com cada tipo.. Eu fico imaginando quantos já meteram a boca naquilo, quantos já sentiram aquele falo rasgando seu interior.
Ficou claro até o nível de tesão que ele teve, o encanto, a beleza, a sedução do caçador.
Interessante que eu fui trocado por isso. Toda a segurança que oferecia, toda a preservação de um relacionamento estável trocado por um pescador de homens nas madrugadas, usando um anzol convidativo nas suas linhas de esperra.
Não que o personagem tenha culpa nisso. Ele apenas é um objeto, se vende como um objeto e eu fico me perguntando que tipo de pessoa ele realmente é. Eu tive uma fase parecida. Durou algo como dois meses. Foram os piores meses da minha vida e eu sinto mais nojo ainda de lembrar os tipos que foram atraídos pelo anzol. Nunca usei a tática da espera, sempre me mantinha por perto (Meu avô é pescador e me ensinou a limpar as linhas de tempos em tempos para não pegar peixes ruins, também para os peixes não morrerem e apodrecerem no fundo do rio)
Por estas e outras acabei abandonando os meus tempos de pescador de homens.
Pessoas que usam este artifício, além de terem pouco amor próprio (camuflada de superioridade), buscam relacionamentos fugazes. Encontros que duram poucas horas. Sentem-se maiores pelos seus atributos, pensam que podem consumir sem se preocupar com a necessidade, a fome ou com a presa. Pessoas assim usam os outros, pela técnica e experiência e o texto, fica muito claro que ele é um pescador rotineiro, já passou por momentos de fartura e sabe se comportar da melhor forma. Seria o tipo de pessoa que nunca se aproximaria de mim e que eu alertaria caso se aproximasse de alguém próximo. Servem apenas como objeto de consumo. Eu indicaria a comer as sobras do anzol, dar uma puxadinha para que venha mais comida e depois partir para outra. Nunca terão relacionamentos duradouros, pelo simples fato de não possuírem as habilidades para isso.
Também me pergunto o que deu na cabeça “D ele” para se envolver com tal tipo.
Talvez eu não tenha oferecido algo fundamental. Talvez meu jeito de fazer carinho ou minha maneira de conversar fossem irritantes. Minhas conversas enfadonhas, meu jeito de sempre tentar explicar ou entender tudo o que se passa. Talvez eu não tenha alimentado o suficiente.
Pode ter sido meu ciúme que cresceu e se tornou doentio com o passar do tempo.
Em todos os momentos do relacionamento eu avisei. Não usa meus ciúmes como alimento, esta sensação não leva a absolutamente nada. Se quiser me manter usa a confiança… Me dá confiança, deixa que eu tenha confiança em ti e tu vais me ter para o resto da vida.
O que eu tive foram sucessões de desconfiança. Tanto que eu que errei no início, errei por desconhecer, por me decepcionar.
(
Observar os olhinhos brilhando vendo o outro, de tentar escapar disso e ser aprisionado.
Lembro até hoje de ter sugerido várias vezes darmos uma volta, de ter quase implorado para sair do lado daquele predador… Mas os teus olhinhos brilhavam e tentavam encanta-lo. Tomei uma atitude dominadora, mas de nada serviu. Enquanto eu estava no banheiro tu tentava ousar. E eu, acabei desacreditando e terminando o relacionamento, traindo e conquistando novos inimigos, fui usado pela primeira vez e acabei me tornando o vilão da história
).
Com o passar do tempo, acabei tendo provas e mais provas de que eu estava sendo movido a insegurança.
Posso sentir e ampliar até níveis inimagináveis cada um destes sentimentos, tanto os bons, quanto os ruins, e, se tu conhece meu amor e a minha entrega, não queira conhecer meu ciúme doentio ou minha raiva, porque eles ferem e destroem a todos e a mim mesmo, até que exista só uma semente para crescer novamente.
É bom passar a limpo todas estas coisas no momento.
É gostoso pensar que, por mais coisas que eu tenha dado, e por mais indiferença que eu tenha sentido, sempre busquei. Tentei de todas as formas, com todos os elementos que podia.
Tu preferiu usar a culpa e o ciúmes em vez do amor que eu sentia.
E agora?
Bom, agora eu dou o próximo passo.
Vou navegar pelos rios que estão ao meu alcance, remar lentamente, usar minha luz encima do barco para atraír, esperar que algum peixe bonito apareça, entrar na água e conquista-lo aos poucos. Perceber suas curvas, seu jeito… Tentar nadar no mesmo ritmo.
Lentamente me tornarei um outro peixe e rumaremos para locais inimagináveis, onde anzois e linhas não nos atrapalhem ou que sejam totalmente ignorados. Não precisamos do alimento que está sendo ofertado pelas armadilhas, podemos caçar juntos para nosso próprio sustento e evolução.
Sinto-me leve, vazio, completo.