O Exorcismo

A Entidade! No estilo Kafka
(Foto tirada no eroporto de Porto Alegre)

O termo exorcismo (em grego: exorkismós, “ato de fazer jurar”, em latim: exorcismu) designa o ritual executado por uma pessoa devidamente autorizada para expulsar espíritos malignos (ou demónios) de outra pessoa que acredite estar num estado de possessão demoníaca. (Wikipédia)

Termo muito adequado para designar o ato de remover através da crença, espiritualidade e dor alguma entidade que esteja absorvendo sua energia e te destruindo aos poucos.
Neste caso, a vítima também cumpre o papel de exorcista, já que não existe forma de outra pessoa intervir neste processo doloroso.

Ao exorcisar uma pessoa precisamos de alguns elementos básicos.
O primeiro dele é a força de vontade,
O segundo é a perseverança,
O terceiro é a crença,
E por último e não menos importante, aparatos de exorcismo.

Durante o ato, a entidade fala coisas que te desanimam, também usa elementos do passado para te atacar e se manifesta através de outros.
Em vários momentos, o exorcista sente-se comovido pela fragilidade, é enganado ao observar a dissimulação da entidade.
Tentem entender da seguinte forma. Existe uma casca por fora que é simpática, querida e que consegue comover qualquer um. É passível de pena e, mesmo agindo de formas muito pouco óbvias ou necessárias, acaba por sempre ser perdoado.

É muito difícil perceber quando se está ao lado de uma entidade negativa, que consome tua energia.
Em um primeiro momento, sempre existem desculpas para as mais diversas coisas.
Para ir ao cinema, para ver um filme, para sair e tomar chimarrão na redenção.
No dia a dia, esta pessoa sempre está cansada e sempre demonstra a necessidade de cuidados especiais, portanto o exorcista, indivíduo lesado, toma cuidado e trata das dores da entidade da melhor maneira possível.
As vezes, o lesado sente que está sozinho. Que só é requisitado durante algumas atividades como auxílo, citando coisas íntimas, como ser um objeto sexual, ou para coisas mais corriqueiras como acordar mais cedo e fazer um café da manhã exatamente como é apreciado.
Outro ponto, e que eu fui descobrir recentemente o motivo, é que o lesado é afastado de sua vida social e não participa da vida social da entidade. 

O mais interessante é que estas desculpas não se aplicam quando a entidade ou indivíduo está com seus amigos ou procurando uma nova presa. Nestes momentos podemos perceber todas as facetas.
Enquanto está ao lado do lesado, a entidade se comporta como um coitado, mas ao lado de amigos e em situações de felicidade, se comporta como uma pessoa normal! Ai fica muito claro os motivos dos afastamentos sociais. A entidade, precisa manter as duas facetas, uma ao lado dos seus amigos e outra ao lado do lesado, juntar estes dois grupos seria um desastre.

Com o passar do tempo, o lesado, acaba desenvolvendo algumas crenças de permanência, de necessidade. Precisa crer em alguma coisa e começa a superestimar a entidade. Por outro lado passa a desacreditar em todas as coisas ditas e começa a sentir níveis de ciúmes desnecessários. Sempre acredita que algo está errado e monitora, cuida e espera pelo momento certo para o desapego.
Tem medo disso, muito medo, pois construiu uma simbiose única, onde ele absorve e se doa, aguarda um retorno que nunca vem e usa as mesmas desculpas fornecidas para conseguir sobreviver dia após dia.
Frases como, “Quando eu me formar vai melhorar” ou “Estou esperando receber” ou “Depois dos períodos de prova” e ainda “Te amo”, vão se acumulando e perdendo o sentido, mas assim mesmo, sem sentido, continuam alimentando as esperanças.

Nesta etapa, o lesado está tão entregue que para de desenvolver suas habilidades naturais, para de ter vontade de trabalhar, de ver amigos e consequentemente de viver.
Neste momento exato é a hora do exorcismo.
Pela prática, posso dizer que a pior das coisas a ser feita é substituir a entidade por algum outro espírito imundo da noite, ou seja, trocar pouco por menos ainda.
Também é errado tentar suprir as migalhas ofertadas pela entidade por conselhos ou outras diversões fúteis oferecidas pelos amigos.
Muito pior é substituir a intimidade. Ela simplesmente não existe enquanto estamos tentando arrancar estes monstros de perto de nós, portanto transar com alguém está fora de questão, existe a grande possibilidade de o lesado sair mais machucado do que quando começou.

Mas, o processo existe, e o lesado acaba por reagir.
Depois de estar forte o suficiente e entender os elementos que o fizeram ser tão idiota e ignorante.
Depois de perceber que a entidade está rodeada de pessoas que não fazem a menor idéia das suas reais intenções e perceber que nada mais importa.
Depois de lutar em vão, de tentar resolver, chega o momento do desapego.
Este talvez seja a pior fase, a hora em que precisamos esquecer dos detalhes e procurar usar a energia pessoal para bloquear a energia de fora.
Eliminar pouco a pouco os defeitos e manias que a entidade trouxe para o lesado.
Reformar o visual, o apartamento, o guarda-roupas, a vida.
Conhecer pessoas novas sem pretensão de substituir. Ser e estar, buscando melhores momentos e ideais.
Apagar as horas difíceis, os erros, os defeitos.
Esquecer das frases sem sentido, se curar da dor de observar a entidade absorvendo energia de outras pessoas no seu lugar.

Perceber que nada no mundo é realmente definitivo e que todas as coisas dão voltas, reviver a percepção de mundo cíclico e colher frutos raros plantados em outras épocas.
Cometer atos de ousadia e realização pessoal.

Reaprender práticas esquecidas, como a conquista e a tolerância ao desconhecido.
Uma etapa difícil, mas necessária.

O Exorcismo está ocorrendo.
Neste momento não faça nada que te traga lembranças desnecessárias.
Não veja amigos que lembrem de situações ruins.
Substitua o nome da entidade por um apelido pouco convencional para não ter que se referir a ele pelo nome.
Apague os registros, e-mails, mensagens, fotos ou esconda em um local de difícil acesso para no futuro lembrar de como foram ruins estes dias e não esquecer das lições aprendidas. 
Use a inteligência para bloquear todas as necessidades de contato, de saber, de entender o que se passa na cabeça da entidade. Nada disso mais importa.
Pare de beber, pare de ir a festas procurar algo que não será encontrado. Só saia se for bem acompanhado e tendo a certeza de que não cometerá o erro da substituição.
Procure elementos novos, cuide do corpo e da aparência. Cuide da cultura, cuide das partes que foram negligenciadas nos períodos em que estava sendo sugado.
Não esqueça de sair com pessoas queridas, não deixe de se divertir com coisas que te façam bem.
Deixe de se esconder na noite e passe a viver durante o dia.

Acredito que estas regras se aplicam a grande parte dos exorcismos pessoais.
Não se sinta chateado por ter sido abandonado, não é a primeira vez e possívelmente não será a última.
Tenha em mente que você é uma pessoa especial e merece alguém que te traga felicidade e preencha tuas memórias com coisas boas.
Deixe que a entidade absorva os elementos do mundo. Deixe que o Templo do Tempo cumpra seu papel e que a roda dos mundos se encarregue de mostrar suas qualidades.
E nunca esqueça das lições aprendidas.
Nada é por acaso
 

Graças estou conseguindo superar.
Ainda clamo nas madrugadas por um retorno, mas vejo o mundo em que estou e percebo que cada dia aparecem novas oportunidades que fazem eu me sentir bem.
As coisas estão acontecendo como deveriam acontecer, estou sendo reconhecido, estou reaproximando os cacos e colando peça por peça. Estou voltando a ser uma pessoa razoável. 


A cada dia menos energia é entregue. 

A cada dia sobra mais pra mim. 
Vou conseguir me livrar.
Preciso, para conseguir viver e realizar meus sonhos.

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