Um pensamento vago que aos poucos vai adquirindo forma. A forma mais simples e objetiva. 

4 pernas, vestido de pimenta, carrega e traz, pensa, come, dorme. Amarrado a uma esperança vazia, desatando sonhos e planos. 

A vítima se oferece, não cai… Faz bem ser desejado, faz bem destruir o outro. 

Cartões e convites, cartas eletrônicas buscando contornar o impossível. A verdade velada de alguém que perdeu o seu objetivo. 

O ciúme aumenta. Começa a queimar. 

É uma sensação tão clara, objetiva e verdadeira que pode ser tocada. 

Parece piche com pedrinhas. Asfalto derretido, quente e mortal.

 Percebo meu corpo preso, minha mente enlameada. Cada passo me leva mais próximo do fundo, cada movimento mais pesado, denso, impossível. 

As pedras queimam e penetram nas memórias boas do passado, pintam tudo de negro. Afundam as lembranças e impedem a luz de entrar. Cada pensamento, sonho ou previsão tornando dor.

O erotismo da cena distorce a realidade. 

O pensamento do sonho pedindo para ser maculado pelo puro prazer.
Prazer que era só meu e agora é do mundo. 

Preciso lavar o negro, remover o óleo, arrancar, raspar. 

A pele vai junto, as memórias corrompidas também. 

Pena que não pode ser visível por fora. A casca permanece. 

Não tem volta. 

O ciúme machuca mais do que a alma pode controlar. 

Sensação auto-alimentada… Destrói as lembranças e incorpora no seu corpo negro. Vai corroendo por dentro e aumentando seu tamanho. 

A única forma é matando o sentimento. 

Se não existir nada, do que ele vai se alimentar?

Pode ser a única forma de matar o ciúme. Em vez de lutar contra ele, em vez de tentar adicionar memórias boas (e aumentar o seu tamanho), em vez de sugerir, repensar, repicar e compartimentalizar. 

Em vez de usar a lógica (estávamos solteiros, poderíamos ter feito), em vez de tudo, simplesmente deixar ele corroer o que sobrou e morrer a míngua, sem alimento. 

3 anos me tiraram as forças. Muitos sonhos desperdiçados, tempo perdido, força de vontade consumida. 

Sobrou muito pouco pra resgatar.