O Cume da montanha

extraída de http://www.georgevolpao.com/

Hoje, depois de trocar alguns e-mails, nadar, fazer esforço na academia, pensando e remoendo os motivos que fazem as pessoas se unirem, fiquei pensando no relacionamento perfeito.

As pessoas unem-se por ideais afins;
Unem-se por pensamentos, formas, corpos e sentimentos;
Trocam experiências e percebem que o outro faz parte de si e que ele faz parte do outro.

Cada certeza, conquista, felicidade e momento de alegria é compartilhado.
Também, em contraponto, cada momento de angústia e dúvida.

Os relacionamentos servem para que as pessoas evoluam e possam conquistar aquilo que sozinhas não conseguem. Serve para que  as virtudes de um cubram as falhas do outro e permitem que a unidade seja mais forte do que individualmente.

Pensando neste aspecto, relacionei algumas pessoas que conheci na minha vida e tantas histórias que ocorreram no passar destes 31 anos que estou na terra.

Pensei em todas as oportunidades que transmiti para quem eu amava, em várias ocasiões.
Pensei nas vezes, em que mesmo tendo pouco dinheiro, me esmeirei para fazer uma janta especial, sabendo que o outro estava na faculdade e que o estudo, a dor das provas, o tempo em que não podiamos ficar juntos seria recompensado por aquele jantar. Tentando dar conforto e carinho, mesmo sendo recebido com frieza. A faculdade era importante pra ele por ser a porta de entrada para um mundo onde a estabilidade financeira seria alcançada.

A faculdade dele também era importante pra mim. Eu vibrava com as conquistas, sabia que cada prova e cada final de semana era menos um para que ele pudesse ser meu. Sabia que a estabilidade financeira dele também seria a do casal e me esforçava para que ele pudesse conquistar isso. Sempre idealizei um relacionamento perfeito, onde não existisse um parasita e outro provedor de sangue.
 
Uma vez terminamos em função de uma suposta viagem para a França, onde ele havia se organizado por meses cultivando o sonho. Eu fui descartado no final, ele sabendo que não podia manter um relacionamento a distância e pensando na própria realização, não na do casal. Eu teria largado tudo e ido pra lá se fosse necessário. Não tenho medo do novo e muito menos de trabalho.

Outra vez, após uma “crise” em função do TCC, ele se “associou” a um jornalista, que escreveu grande parte do Trabalho de Conclusão dele.

Na decisão de mudar para São Paulo, eu fui descartado também. Era impossível manter um relacionamento a distância.
Acabamos voltando. Sempre voltando.
Fiquei 4 meses imaginando que São Paulo seria um período curto. Que ele ficaria atendendo os clientes do sul. Fui enganado novamente. Desta vez eu terminei…

Mas não resisti quando ele me escreveu uma carta dizendo que agora seria tudo “diferente”… Quantas vezes eu ouvi que ele iria mudar… Quantas vezes imaginei como seria nosso apartamento e as nossas coisas. Como sofri em cada término pensando que tudo aquilo seria destruído pra sempre.
Mas aceitei. Quando cheguei em São Paulo, ele estava totalmente perdido. Não sabia o que fazer com a nova vida. Montei o quarto dele, comprei camisas com ele, cozinhei pra ele.
Modifiquei datas de viagens para que pudéssemos nos ver. Esperei sempre e constantemente que ele se acomodasse.

Ampliei meus projetos em São Paulo, conversei com pessoas, criei um meio ambiente ideal para que eu pudesse me mudar. Até encerrei contratos com clientes para que eu pudesse ter mais tempo para organizar a cabeça e me preparar para o que aconteceria. Tinha certeza de que me mudaria.

Aceitei muitas coisas durante este tempo todo. Vi o orgulho do olhar ser ampliado pela vista da cidade grande. Percebi várias vezes que era utilizado em momentos necessários e descartado quando precisava de apoio…

Agora vem uma promoção. Estávamos em um momento muito singular, onde as coisas, pelo menos me pareciam, estabilizar. Eu acreditava que ele estava se acalmando e se acostumando com a vida naquele lugar. Eu estava muito certo do futuro e do que sentia por ele.
Eu estava voltando a me sentir feliz, voltando a ter esperanças. Estava também me acostumando com a idéia (a mudança também ocorreu em mim).

Ai, vem a promoção…
Ele tinha 2 possibilidades. A primeira seria me convidar para morar com ele em São Paulo e fazer com que nossa vida realmente desse certo. Por mim ela funcionaria, faria de tudo para ser perfeita. 
Ou a outra opção;
Agora não preciso mais dele. Atingi meu objetivo e estou estabilizado nesta cidade, posso fazer o que quiser e não preciso mais.

Obvio que ele optou pela segunda. Sempre foi assim. O egoísmo sempre foi a marca mais importante e imponente na personalidade dele.
Eu fui novamente descartado.

Fico me perguntando porque algumas pessoas agem desta forma. Elas se preocupam em sugar o que o outro tem de bom, aprendem, escalam por cima das cabeças de quem pode levanta-los mais alto.

Nas conversas hoje, e a principal desculpa para o término foi – Tu está muito depressivo, estou te fazendo mal. Foram citados vários motivos para isso e várias provas, todas elas incitando que EU estava fraco, que ELE me fazia mal, que EU não estava suportando… Sou forte, muito mais forte do que se imagina. Sou capaz de me adaptar a qualquer situação. De todas as coisas, a principal não foi dita.

Eu estou depressivo e cansado porque não tenho mais nada para te dar. Tudo foi sugado de mim como por uma sanguessuga que puxa o sangue e mata suas vítimas. Estou sem energia para sustentar uma pessoa que só se alimenta da alma dos outros. 
Realmente, tu só me fez mal. Usou minha inocência, senso familiar, inteligência e companheirismo para escalar o topo da sua vida. Agora que tinha todas as possibilidades de fazer realmente dar certo, optou por seguir o caminho sozinho. 

O interessante de tudo isso é que, mesmo com as minhas experiências eu caí. Tentei dia após dia acreditar que mudaria. Sonhei com o dia em que a formatura chegasse, sonhei com a mudança… Tudo em vão.
Teve ainda a capacidade de me dizer que teria medo que eu fosse me sentir inferior. 
Me senti inferiorizado várias vezes por ti. Porque as conquistas nunca foram NOSSAS, sempre eram tuas. 
Por outro lado eu ficava extremamente feliz com D sempre que ele conquistava um benefício ou ganhava um aumento, mesmo quando ele ganhava o dobro do que eu. Ficava feliz por NÓS termos conquistado aquilo juntos. Infelizmente tu não tens esta referência.
Contigo era diferente… Era a tua formatura, foi o teu emprego, a tua mudança e as tuas promoções… Nada era nosso… Eu suportava mas não tinha retorno. Apoiava mas não fazia parte. Mesmo você dizendo nas suas palavras que não estaria onde está hoje se não fosse por mim, mesmo eu tentando acreditar nisso, eu não sentia, era uma cortina de fumaça que projetava teu ego sobre mim.

Realmente, fui um bobo em acreditar que você seria diferente. Eu preferia namorar com alguém que me traísse a confiança mas que fosse meu e fossemos nós. 
Sempre sonhei com o dia em que seríamos nós, mas contigo isso realmente é impossível.

Algumas pessoas optam pela solidão do sucesso.
Algumas pessoas simplesmente escolhem crescer sem se preocupar com os outros. Sinto tristeza por saber que ele faz parte deste grupo miserável.
Estas pessoas escolheram viver sozinhas, optaram inconscientemente em ter e ser.
Não preciso de pessoas assim ao meu lado.
Eu seria eternamente um objeto, como uma ferramenta.

Preciso de alguém que me entenda, que construa comigo e não sobre mim.

Existem outras pessoas capazes de te levar mais para o alto. Você vai chegar onde ninguém chegou. Seu sucesso vai ser sua realização pessoal para o mundo. Espero que seja o bastante. 

No cume da montanha sempre chegam os mais fortes. Mas é solitário e o caminho de volta é somente a descida. Lá encima não existe ninguém para apreciar a vista, somente você e o vazio.

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