A Esquina
O prédio antigo, recentemente restaurado. Os sinais de trânsito. Carros, pessoas, cachorros. Uma praça arborizada. Cheiro de comida, de café, de cigarro e poluição.
Quantas vezes passou por aquele lugar sem pensar em absolutamente nada. Um lugar qualquer, caminho de muitos, lembrança de poucos.
Nunca realmente havia percebido a beleza, a angulação combinada das sacadas históricas, as cores terrosas se sobressaindo ao cinza da cidade, a luz da manhã refletindo no vidro dos carros na rua e iluminando as árvores por baixo.
Hoje, tudo é diferente pra ele.
Lembra do abraço que deu, da despedida e da dor de saber que nunca mais o veria da mesma forma. Mesmo com a promessa do amanhã, mesmo com o beijo rápido, ele sabia que era a última vez.
E com pesar, tendo consciência, se esforçou a acreditar no que poderia ser… No que era prometido mas não seria dado.
Hoje, aquela esquina tem o tempero que a saudade projeta na memória presente.
Os latidos, buzinas, falas tem o timbre da voz dele.
O cheiro tem o gosto do beijo amanhecido que trocaram naquela tarde.
A cor da luz é diferente.
Aquele lugar nunca mais será o mesmo.
Ele avista um rapaz de costas! Coração bate forte por um instante… será?
Cabelos negros, camisa branca… Um instante eterno…
Não..
Era só o vulto do passado projetado em um transeunte.
O dia e a vida seguem…
Outras esquinas terão seu significado ainda. E este, mesmo relevante, se desvanecerá com o tempo.
Taxi!